Estava na hora de seguir para o próximo destino e fugir do ar asfixiante de Manila.

De manhã bem cedo meto-me num Uber em direção ao aeroporto onde me esperava um voo com destino à ilha de Bohol. Tendo em conta o habitual trânsito demoníaco de Manila, decido dar uma boa margem para não correr riscos desnecessários mas afinal aos domingos o trânsito, tal como em tantas outras cidades por todo o mundo, não é assim tão mau. Sim, há filas, não se iludam, mas nada se compara ao que se encontra durante todos os outros dias da semana. Em cerca de 15 minutos chegava ao aeroporto, uma diferença gigantesca em relação à viagem de táxi de 1 hora que tinha feito para o hotel quando cheguei 2 dias antes.

O voo, da Cebu Pacific, demora cerca de 1h30 a chegar a Tagbilaran, capital da ilha de Bohol. Mal dou pelo tempo passar. No entanto não consigo esconder um ar de desapontamento quando chego a Cebu. Saio de Manila com um sol radioso e sou recebida neste novo destino com um dia bem cinzento… O meu lado positivo não me deixa desanimar por completo: pode ser que em Bohol esteja melhor. Tem de estar melhor! Do aeroporto de Cebu sigo de imediato para o porto onde teria ainda de apanhar um ferry rumo a Bohol. Na verdade poderia ter voado diretamente para lá, mas as minhas alterações psicóticas de última hora ao plano de viagem fizeram com que não conseguisse alterar o voo que já tinha comprado uns dias antes. Oh well. A viagem de ferry demora 2 horas. Pelo caminho tento lutar contra o frio ártico que se faz sentir lá dentro. Não consigo perceber a obsessão dos povos asiáticos em colocar o ar condicionado em temperaturas que a mim me parecem quase negativas.

À chegada a Bohol, o meu positivismo leva uma chapada tamanha que o enfia num buraquinho bem fundo: o tempo estava ainda pior. Chuva intensa, vento e céus bem cinzentos. E eu a pensar no que é que ia fazer à minha vida visto só ter um dia para aproveitar esta ilha. Bem, uma coisa de cada vez. Vamos lá então seguir para o hotel. Já se vê o resto. Meto-me num trycicle que em 10 minutos e por menos de €1 me deixa na Guesthouse que tinha reservado (Tr3ats Guesthouse Bohol). À noite, no meu quarto, planeio o dia seguinte. A chuva não me ia parar!

O dia seguinte começa cedo. Ao sair da Guesthouse vejo que um dos outros hóspedes (um miúdo polaco de 28 anos muito porreirinho chamado Marrick) está a pedir indicações à rececionista sobre como fazer o mesmo percurso que eu ia fazer de transportes públicos. Pergunto-lhe se se quer juntar mim, dava-me jeito companhia na realidade. O dia adivinhava-se longo com tantos sítios para visitar e seria mais agradável se tivesse alguém com quem partilhar a experiência. Ele aceita de imediato. Coisa típica de viajantes a solo. Vamos lá então.

Nas minhas pesquisas tinha encontrado indicações preciosas sobre todos os transportes e percursos a fazer para encontrar todos os locais que queria visitar, pelo que estava bastante segura do rumo a seguir. A chuva continuava a cair entretanto. Seguimos de trycicle para o Terminal de Autocarros. Ao chegar lá percebo que não iria ser assim tão fácil… A desorganização era grande e não conseguia perceber o destino dos vários autocarros que lá estavam. Como não existia bilheteira no terminal (os bilhetes são pagos dentro dos autocarros), começo a perguntar a algumas pessoas onde podíamos encontrar o autocarro em direção a Sikatuna. As respostas e o ar de quem, claramente, está a tentar puxar a brasa à sua sardinha, não mudam muito: “Autocarro? Hummm.. não sei, não sei… mas há ali um mini-bus que vai até lá. Venham, venham, eu levo-vos até lá!”. Sim, mas eu não quero um mini-bus, eu quero ir de autocarro público mesmo. Pergunto a cerca de 4 pessoas diferentes e a resposta é sempre a mesma. Ai o caraças. Mantenho um ar seguro e um deles chega à conclusão que não vai ter sorte: lá nos indica a localização do autocarro. Finally…! O autocarro é realmente o que parece ser: um pedaço de metal onde as janelas são placas de madeira escura que têm de ser manipuladas com cuidado para não nos cairem em cima. À frente, no interior, faixas com frases religiosas, terços e várias imagens de santos preenchem a área que rodeia o condutor. Ficamos à espera que o autocarro receba mais passageiros e quando o condutor está satisfeito com o número de pessoas lá arrancamos. Ao chegar ao cruzamento que dá acesso ao Santuário de Tarsiers, dão-me indicação para sairmos do autocarro. A chuva entretanto intensifica-se mas não há nada que se possa fazer. Guarda-chuva nem vê-lo e a capa da chuva ficou onde não devia ter ficado: em Lisboa. Por isso assumo que vou ficar completamente encharcada e faço-me à estrada. Ao chegar juntamos-nos a um grupo que segue com 2 guias pela zona onde se encontram os Tarsiers.

Estes bichos com um ar adorável e tão pequenos que cabem na palma de uma mão, são extremamente frágeis e delicados. Qualquer toque ou distúrbio (por exemplo, turistas a tocarem nas folhas das árvores onde estão, ou sons mais altos) os afeta. E quando mantidos em cativeiro em locais apertados, tendem a cometer suicídio, batendo com o seu frágil crânio nas paredes da jaula. Bem triste na realidade… Existem 2 santuários de tarsiers em Bohol – o Tarsier Sanctuary e o Loboc Tarsier Sanctuary. Escolhi visitar o primeiro por ser o que contribui efetivamente para a preservação da espécie, mantendo-os num ambiente protegido mas muito natural, com bastante espaço.

A visita é inteiramente feita debaixo de chuva intensa. Não havia um bocadinho de Maria João que não estivesse encharcada. À minha frente, um turista seguia com um guarda-chuva enorme que ao passar entre os arbustos onde os bichos estavam, abanava os ramos incomodando os animais. Não bastando isso, foi por sorte que não fui cegada por uma vareta do guarda-chuva por 2 vezes. Estive tentada a dar-lhe umas indicações precisas sobre o local onde poderia enfiar o guarda-chuva.

A seguir ao Santuário, voltamos à estrada principal para seguir num outro autocarro rumo a Loboc onde teríamos de mudar para outro que seguisse em direção às famosas Chocolate Hills, o próximo ponto (e principal) no roteiro do dia. Sim, teria sido bem mais fácil simplesmente seguir de mini-bus ou adquirir um tour, mas a experiência de poder viajar lado a lado com os locais é impagável. É uma forma extraordinária de observar as suas rotinas diárias, os seus comportamentos e perceber de que forma somos assim tão diferentes a nível cultural. Eu, pessoalmente, tiro um prazer enorme em aprender mais sobre a cultura e sobre as pessoas dos destinos que visito. O que há melhor do que o poder que tem a troca de um sorriso autêntico e espontâneo com alguém que não conhecemos?

Aproveitamos para almoçar e acabo por dar de caras com uma paisagem absolutamente magnífica do rio Loboc, rodeado por manchas de tons infinitos de verde. A tranquilidade da paisagem era apenas interrompida por alguns barcos que percorriam o rio recheados de turistas que entoavam o refrão da música “YMCA” acomapanhada por uma coreografia exemplar. Sim, leram bem: “YMCA”.

Rumo às famosas Chocolate Hills. Do outro lado da estrada algumas pessoas disponibilizam-se de imediato a indicar-nos qual o autocarro certo que temos de apanhar. Não consigo deixar de ficar fascinada com a simpatia e disponibilidade deste povo. Saímos do autocarro cerca de 15 minutos mais tarde, junto ao inicio da estrada que segue em direção ao miradouro das Chocolate Hills. A chuva entretanto parece ter dado uma merecida trégua. Confesso que estava com algum receio de encontrar algo abaixo das expetativas ao chegar lá acima, mas felizmente pude respirar de alívio. A vista é realmente tão impressionante como parece nas fotografias que se encontram online. Milhares de pequenas colinas, de formato uniforme preenchem uma área de cerca de 50km2. A paisagem é tão impressionante que não consigo deixar de admirá-la. O verde que cobre as colinas não deixa perceber o porquê do seu nome. Na realidade, as Colinas têm esse nome pela cor castanho-chocolate que a sua vegetação adquire no final da época seca. A sua origem não é certa, no entanto o painel que se encontra no miradouro conta como as colinas poderão ter sido formadas pela acumulação de sedimentos marinhos em cima de cal ao longo de milhões de anos. Mas gosto mais da história que diz que as colinas foram feitas pelas lágrimas de um gigante.

No regresso à cidade ainda há tempo para uma paragem nas Twin Bridges na zona de Sevilla (sim, Sevilla, Filipinas). Termino o dia completamente estoirada e com o início de uma sacana de uma constipação. Depois do jantar despeço-me do Marrick e preparo-me para a longa viagem do dia seguinte até à ilha de Coron, onde me espera uma expedição de barco de 3 dias com a empresa TAO Philippines com direito a acampamento em ilhas desertas. Mas essa história fica para a próxima crónica.

Até já!

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Maria João Proença

Nascida e criada em Lisboa, Portugal, mas apaixonada pelo mundo. Adoro partilhar as minhas histórias de viagem, fotografias e videos e aconselhar e inspirar quem partilha a mesma paixão pelas viagens!

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